Durante boa parte de seus 25 anos, Deysilene guardou para si, em uma caixinha imaginária com brilhos e adereços, o desejo de se entregar ao Carnaval. Ficava do outro lado da festa, mais uma foliã na multidão, bem diferente do pedestal carnavalesco onde está agora, depois de ser eleita Princesa do Carnaval de 2017.
O percurso foi permeado por muitas barreiras, principalmente por Deysilene ser mulher e negra. "Minha mãe sempre disse que as pessoas já me associariam ao samba e a Carnaval simplesmente por isso. Existe uma ideia muito errada de que a mulher sambista, principalmente a negra, é só um corpo. Isso acabou me afastando deste universo", conta ela, já nobre no ramo antes de 2017, com o título de Rainha do Samba do Morro, realizado na Toca da Raposa.
Atualmente, Deysi cursa letras e é funcionária pública no Departamento de Zoonoses, caminho que trilhou sem pensar mais seriamente na folia, mas fazendo parte dela. "Então percebi que podia ter tudo. Estudar, ser concursada, e sim, ser passista, rainha, princesa, o que eu quisesse" diz ela, que conquistou sua coroa já na primeira tentativa, mas não sem esforço: a preparação incluiu aulas intensivas para aprender samba de passista. "É muito diferente do normal".
Hoje, com a caixinha que abrigava seus sonhos de Carnaval completamente aberta e integrada a todas as facetas de sua vida, Deysi sente que, como realeza do carnaval, precisa ser uma líder que promova o crescimento de seu povo. "Temos a obrigação de mostrar às mulheres que não importa se elas estão gordas, magras, baixas, ou de qualquer jeito que forem. Elas devem ser como querem. Porque muitas deixam de viver para se enquadrar nos moldes da sociedade. A alegria do Carnaval também passa por promover a liberdade."
Textos - Júlia Pessôa
Fotos - Sérgio Neumann