NOTÍCIAS: DEFESA CIVIL
JUIZ DE FORA - 26/1/2016 - 16:07
Intervenção humana é responsável pela maioria dos deslizamentos de taludes
A maioria dos casos de deslizamento de barranco é provocada pelas ações dos próprios moradores. A natureza, ao longo dos anos, foi adquirindo sua formatação. A partir do momento em que o homem faz uma intervenção nesse processo, ele começa a contribuir para o risco. Diante disso, a Defesa Civil de Juiz de Fora está buscando esclarecer as pessoas sobre as dúvidas a respeito do assunto, explicando a importância da presença de um responsável técnico, quando se pretende construir em áreas de encostas.
Para tirar as dúvidas
O talude é todo feito de “grãozinhos”. A água tem por objetivo encher os espaços entre eles e travar o solo. Acontecem muitos deslizamentos depois de períodos de seca, porque a água que trava o solo evapora, e os “grãozinhos” ficam soltos, sem aderência. Quando vem a primeira chuva, sendo muito forte, varre os “grãozinhos”, que deslizam. É como se fossem bolinhas de gude soltas. O mesmo acontece com a chuva contínua, mesmo sem grande intensidade. “Com a chuva fina, o terreno volta a ter adesão, mas tem um limite de saturamento, que, se ultrapassado, faz com que o peso da água seja superior à atração das moléculas, rompendo o barranco, que desliza”, explicou o subsecretário de Defesa Civil, Márcio Deotti.
A aderência do terreno depende basicamente de dois fatores para atingir a estabilidade: a qualidade do solo e a curva de inclinação. Se o terreno tiver aderência boa, a inclinação pode ser de até 90 graus. E o que caracteriza um terreno de boa qualidade é o fato de ele ser mais argiloso do que arenoso, ou seja, ter mais barro que areia.
“A análise de um engenheiro, antes de cortar um barranco, é fundamental, porque ele vai identificar o grau de inclinação para a estabilidade do terreno. Quando se corta acima de sua capacidade de suporte, a tendência é o terreno deslizar, para estabilizar”, acrescentou Deotti.
No período de chuvas, quando acontece o deslizamento de um barranco, muitas vezes não se deve mexer nele, porque, quando ele satura e desliza, adquire estabilidade. Se for mexido, perde essa estabilidade e desliza mais ainda.
Saturação e apodrecimento
Dois grandes erros, responsáveis pela maioria dos deslizamentos: saturação e apodrecimento do terreno. A saturação pode acontecer de várias formas, mas a mais comum é a não colocação de drenos nos barrancos, o que faz com que a água pese o talude. Outro problema é o direcionamento da água da residência para o barranco. Aos poucos, a água vai gotejando no talude e se infiltrando no terreno, que satura. Geralmente, essa água contém muito produto químico e material orgânico, que causam o apodrecimento do terreno. “Esse é um problema grave. Quando você passa em áreas de risco, sempre vê os tubos saindo das casas e jogando água no barranco”, exemplificou Deotti. Outra forma de apodrecimento é o descarte de lixo no terreno. O lixo acumula água, chegando a um determinado ponto em que o peso é excessivo, e desce, levando o barranco junto.
Isso não quer dizer que não se pode construir em áreas de talude. Isso quer dizer que, sempre que for feita qualquer intervenção nessas áreas, deve-se, primeiro, procurar um profissional capacitado e, segundo, proteger o barranco. Mas a proteção só será de fato bem feita se contar com a ajuda de um engenheiro, que avaliará o tipo de solo e qual a melhor intervenção para o local.
Além da drenagem, o plantio de árvores pode proteger o barranco. Alguns espécimes tem enraizamento profundo, que funciona como estaca. É o caso do eucalipto, que cresce cinco metros para cima e tem cerca de três metros de raiz. Ela forma uma espécie de aramado, travando o terreno. Mas nem toda vegetação é boa. A bananeira, por exemplo, que retêm água, não tem a raiz profunda, e pesa o terreno. A raiz forma um bulbo, que fica superficial e úmido, e tende a romper o barranco. Para saber qual o melhor espécime para o talude, a orientação do profissional é fundamental.
Obras de contenção
Desde 2013, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) tem concretizado diversos projetos de contenção na cidade. É o maior conjunto de obras da história do município. Com recursos próprios, foram cerca de 130 muros de pequeno e médio porte. E com verba do Governo federal, através de dois convênios, foram R$ 55 milhões, fazendo com que grandes obras saíssem do papel.
Nos bairros Santa Teresa, JK, Três Moinhos, Vila Fortaleza, Grajaú, Santa Cruz, Parque Guarani e Borboleta as intervenções já estão prontas. No Ladeira e Nossa Senhora de Lourdes, importantes contenções estão em andamento. E diversos outros bairros já estão contemplados para receber intervenções a partir desse ano. São essas obras que estão permitindo que áreas de alto risco estejam protegidas nesse período chuvoso.
TEXTO: Luciana Peralta
FOTO: Divulgação Secretaria de Obras
* Informações com a assessoria de comunicação da Defesa Civil pelo telefone 2104-8776.
IMPRIMIR