Na tarde desta quinta-feira, 4, um grupo de mulheres acauteladas da Penitenciária I - José Edson Cavalieri (PJEC), visitou a Casa da Mulher, no bairro Vitorino Braga. Elas conheceram o equipamento garantidor de direitos, assistência, prevenção e combate à violência contra as mulheres em Juiz de Fora. Na sequência, participaram de roda de conversa. A atividade é fruto da parceria que a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) vem desenvolvendo junto a pessoas, temporariamente, privadas de liberdade em instituições prisionais com vistas à ressocialização. A atividade também se insere dentro dos objetivos do Agosto Lilás, campanha que alerta e conscientiza sobre a violência contra a mulher.
Durante a conversa, as participantes relataram a vivência na prestação de serviço extramuros. Todas estão vinculadas aos convênios firmados entre a PJF e a penitenciária. Elas trabalham oito horas diárias com preparo e cultivo de mudas e recuperação de jardins. A cada três dias de trabalho, um é reduzido da pena.
Para Tatiane, 33, anos ter aceitado trabalhar está fazendo toda a diferença. “Eu rejeitei serviço várias vezes. Eu nem gosto de flor, mas depois que eu fui pra esse trabalho, muita coisa mudou. Eu mudei. Eu apareci em matérias de TV e as pessoas da minha cidade, Abre Campo, passaram a me tratar de forma diferente, passaram a acreditar em mim, viram o que estou fazendo aqui e já tenho pelo menos três ofertas de emprego pra quando eu sair no próximo ano”, afirma confiante de sua transformação.
Virada de página é o que também pretende fazer Eny, 47, que retorna à liberdade em setembro deste ano. “Tudo que eu quero é uma oportunidade de trabalhar e ter uma nova vida. Trabalhar assim está me mostrando que meus sonhos podem se realizar pelo meu próprio esforço e trabalho”, confessa.
Já Jocelaine, 35, que também acredita numa vida melhor em seu retorno à sociedade, narrou situações vividas durante o trabalho nas ruas, plantando jardins públicos. “Tem gente que elogia, tem gente que critica, porque somos mulheres. Mas eu vejo aquele vaso seco, feio, cheio de capim e depois do nosso trabalho fica lindo, vivo”, afirma, sobre o poder de transformar coisas para bem, numa quase metáfora de sua recuperação.
Proporcionar experiências de cidadania, contato com serviços públicos e equipamentos culturais, oferecer apoio e orientação para o acesso a direitos, estabelecendo o incremento da relação com o ambiente urbano e seus espaços, no sentido de resgatar o sentimento de pertencimento fazem parte da proposta desenvolvida com os acautelados e acauteladas. Uma via de mão dupla, que tanto traz pessoas para fora dos muros das unidades prisionais, como leva profissionais para a realização de cursos e oficinas dentro do sistema.
Em maio, servidores da Prefeitura estiveram dentro da escola que funciona na PJEC, em Linhares, despertando memórias e a valorização da história da cidade. Desse processo saíram trabalhos artísticos que foram apresentados no Fórum da Cultura, com direito à visitação de seus autores ao local. Posteriormente, durante todo o mês de julho, as obras estiveram expostas à visitação pública no Espaço Cidade, ao lado do Parque Halfeld.
Incluir, inserir e resignificar a relação de pessoas que foram privadas de liberdade com a cidade, oferecendo novas perspectivas para que se reintegrem à sociedade é o norte das ações entre o poder público municipal e o sistema prisional local. “Olhar de uma outra forma, que seja inclusiva, humanizada, que possibilite o resgate a cidadania, que ofereça condições reais de ressocialização com oportunidades para quem está, temporariamente, dentro do sistema é imperativo para um recomeço com mais dignidade para essas pessoas”, reforça a secretária de Segurança Urbana e Cidadania, Letícia Paiva Delgado.
Com a presença das acauteladas, a Casa da Mulher abriu, oficialmente, sua programação do Agosto Lilás. De acordo com a coordenadora do serviço, Fernanda Moura, receber mulheres tão marcadas pela vida e apresentar a elas a oferta de apoio por meio da Casa da Mulher foi uma honra e sinaliza o modelo de trabalho inclusivo que a gestão municipal vem fazendo pela cidade.
A Casa da Mulher orienta e atende vítimas de violência, provendo acompanhamento psicológico e assistência jurídica. O serviço também encaminha vítimas de violência para o Programa Auxílio-Moradia (PAM), além de realizar oficinas profissionalizantes, sob a perspectiva de promover mudanças na vida das vítimas das usuárias do serviço, estimulando possibilidades de superação, transformação e de resgate da autonomia.