A Secretaria de Planejamento do Território e Participação Popular (Seppop), em comemoração ao mês da mulher, promoveu a palestra “Você sabe os tipos de violência contra mulher?”, na tarde desta quinta-feira, 21, no auditório do 1º andar do prédio-sede da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF).
O evento teve como público-alvo servidores e servidoras do executivo e faz parte da programação da campanha "Março, Mais Mulher, Mais Democracia" que durante todo o mês promoverá ações internas e externas elaboradas pelas secretarias e órgãos da Administração Municipal.
De maneira introdutória, para que se entendesse sobre o tema proposto, foram apresentados dados sobre violência de gênero e mostrando dentre eles, que o Brasil ocupa o 5º lugar de feminicídio, além de uma rápida explicação sobre o que é identidade de gênero, orientação sexual, sexo biológico e expressão de gênero.
Como convidados da mesa estavam a secretária de Segurança Urbana e Cidadania (Sesuc), Letícia Paiva Delgado, a professora de sociologia, Célia Arribas, o Investigador da Polícia Civil, Cleber Giliard, e a secretária de Planejamento do Território e Participação Popular (Seppop), Janayna Freire.
A violência contra a mulher se encaixa dentro da violência de gênero em suas expressões física; psicológica; sexual; patrimonial; e moral e como isso impacta na vida e trabalho das mulheres. “Esse tipo de temática está bem alinhada com a gestão da prefeita Margarida Salomão com bastante presença feminina na gestão. Homens e mulheres são bem-vindos aqui para que a gente aprenda sobre violência de gênero e leve para os nossos grupos particulares o debate sobre o tema”, destaca a secretária da Seppop, Janayna Freire.
A professora de Sociologia Célia Arribas, que também é coordenadora o grupo de estudos e pesquisa “Geni – Gênero e Interdisciplinaridade” e faz parte do Coletivo Marielle Franco, foi a primeira palestrante e introduziu que os abusos contra a mulher ocorrem de várias formas, e vai sendo introduzido desde que nascemos através dos comportamentos. “A violência contra a mulher atinge todas. A mulher rica, a pobre, se ela é branca dentro de campo da cidade, se ela é jovem, se ela é adulta, idosa, católica ou evangélica, umbandista ou ateia, lésbica ou hétero sexual, bissexual não importa. Todas as mulheres sofrem violência. Claro que as mulheres socialmente privilegiadas talvez tenham um pouco mais de condição de se defender, ou de algum modo procurar assistência jurídica, mas esse é um fenômeno que atinge as mulheres de modo geral. Quando a gente fala sobre relações de gênero, as relações entre homens e mulheres, que são esses modelos de comportamento que a gente vai reproduzindo e que são prisões pra gente e que transferem também muito sofrimento.”
Também foi convidado para o diálogo o Investigador da Polícia Civil, Cleber Giliard Rodrigues Miranda, que atuou por 12 anos na Delegacia de Mulheres em Juiz de Fora. Cléber explicou que através dos movimentos das mulheres em denunciar seus sofrimentos foi possível identificar que muitos homens violentos não conseguem entender suas atitudes como agressões e que isso se dá devido ao comportamento passado por gerações em que o homem é construído com poder e que essa força pode ser usada sobre todos, da forma como se deseja, inclusive sobre as mulheres.
Grupos Reflexivos para homens
A Lei 13.984, altera a Lei Maria da Penha e determina que autores de violência doméstica frequentem grupos reflexivos para homens. Em Juiz de Fora eles são realizados na Casa de Therta, de segunda a sábado. Cada grupo é composto aproximadamente por 15 homens, nos quais Cléber é coordenador. “No grupo, vamos entender que a masculinidade vai naturalizar a violência de gênero principalmente dentro das suas esferas psicológica, patrimonial e moral como por exemplo, chamar a mulher de gorda, feia, bater na mesa. Não conseguem reconhecer a violência e se sentem injustiçados e nem o seu lugar de privilégio na sociedade. Por isso, usamos o grupo para desconstruir essa masculinidade hegemônica, que não são a maioria dos homens que exercem, mas é ensinada a todos eles e exigida que a pratiquem.”
Cléber destaca também que “um homem precisa performar para outro homem, pois senão, será excluído do grupo dos homens". Esse tipo de masculinidade faz com que eles acreditem que o corpo das mulheres está disponível para servi-los.”
Ainda dentro do tema, foi explanado como conduta repetitiva que quando a mulher decide encerrar o relacionamento, os homens não saem de casa e sim as mulheres, e para reaver a união, eles agridem, e podem até matá-las. “Essa violência doméstica é aprendida, cíclica e reprodutiva, porque a maioria dos autores passaram por essa violência doméstica sendo vítimas ou vendo suas mães e irmãs sendo vítimas e aprendem o comportamento violento entendendo que quando tiverem suas famílias, esta é a atitude ‘correta’. A reprodução se dá pelas gerações com frases do tipo: ‘Para de chorar, menino’, ‘vira homem!’, ‘por que você está brincando de boneca?’, e a instrução que os homens recebem na Casa de Therta é que não repitam esse comportamento com os filhos, a fim de quebrar ciclos”, finaliza, Cléber.
Dever de todos
Após as palestras a plateia manifestou seus exemplos, descobertas e perguntas sobre a temática. O servidor Cosme Laurindo, que hoje atua como enfermeiro do posto de saúde do bairro Vila Esperança, trouxe à reflexão de que o combate à violência deve ser transversal. “Existem os atores como os órgãos de segurança pública que vão ser fundamentais para a proteção e segurança dos indivíduos, mas há também os demais órgãos que devem estar envolvidos diretamente, como os da educação, saúde, assistência social, para que eles construam o entendimento do que é violência e de qual é o seu papel na sociedade para que a gente consiga então, efetivamente prevenir que ela aconteça e não somente combater as consequências.” Cosme exemplifica que enquanto servidor da saúde, muitas vezes em observância do comportamento, percebe que o indivíduo não necessariamente é violento, mas pode estar sendo naquele momento, reativo aos processos anteriores dos quais passou.
Em casos de violência doméstica, DENUNCIE:
Central de atendimento à Mulher em situação de Violência Disque denúncia : 180
Casa da Mulher: Endereço: Av. Garibalde Campinhos, 169 - Vitorino Braga, Juiz de Fora, Telefone: (32) 3690-7292
Casa Mulher Segura Endereço: Av Rio Branco, 967, Centro de Juiz de Fora, Telefone: (32) 99957-6462
Delegacia da mulher Endereço: Rua Uruguaiana, 94 - Jardim Glória, Juiz de Fora / Telefone: (32) 3229-5822
Casa De Therta - Associação Therezinha Regina Tavares telefone: (32) 3213-6525, email:
rdcont20@gmail.com